jueves, 20 de septiembre de 2007

Cinta-liga vermelha.

Verônica trabalhava como vendedora numa loja de roupas, tinha a pele branquinha e os cabelos negros, lisos. Moça simples, saiu do interior com a idade de 18 anos, para viver na casa da tia e continuar os estudos da faculdade, na qual cursava direito. Era uma alma sem luxos, pouca coisa necessitava para que fosse feliz. Verônica era pura, e não costumava guardar rancor. Se alguém lhe fizesse algum mal, ela perdoava instantaneamente e continuava a seguir a vida, sem mágoas. Lembrava-se da catequista do sítio, quando ensinara que as pessoas rancorosas ficam com gastrite e úlceras. Por toda essa pureza de um pano-de-chão ainda novo, as pessoas abusavam de sua prestatividade, mas ela não percebia esses fatos, e se percebia, esquecia.
Um dia, começou a namorar um rapaz galanteador, que tinha o único propósito de acrescentá-la à lista de meninas que já o haviam cedido seus melhores dotes. O rapaz não era fiel, e a usava para receber um pouco de prazer rápido: Assim que obtinha, inventava uma desculpa qualquer e corria para os braços de outra moça mais voluptosa e sensual. À Verônica, tudo corria bem, pois nunca esperou receber de outra pessoa compaixão que não fosse a própria.
Mesmo com esse descaso, ela o amava. Amava-o desesperadamente, como se ele fosse seu único portal de contato com um mundo colorido. Sua vida não era das mais imprevisíveis: Rotina com livros, roupas e serviços domésticos. Não era feia, mas lhe faltava aquele tempero da individualidade das moças da cidade. Pedro era a sua única maçã do pecado, naquele reduto cinza e nada paradisíaco. E por sentir tanto desespero assim, não cobrava dele algum afeto mais palpável. Sentia-se feliz com o que tinha, desde que o tivesse.
Passaram-se oito meses. Vez ou outra, Pedro lhe levava para ver o circo ou lhe dava uma rosa vermelha. Verônica, com aquela pureza interiorana de moça simples, tremia descontroladamente quando ele a desejava de forma mais carnal. Mas cedia. Cedia porque o amava, cedia porque necessitava dele, completamente.
Em uma noite fria, resolveu ir à casa de Pedro para lhe fazer uma surpresa. Pela primeira vez na vida, atrás de um sobretudo de couro marrom, vestia lingerie vermelha, com cinta-liga e tudo mais. Batendo à porta, ele a recebeu aturdido. Balbuciava desculpas de que a casa estava com infiltrações e ela não poderia adentrá-la, que fosse embora, iria visitá-la mais tarde. Ela não entendeu. Empurrou-o e entrou, fechou a porta. Pedro estava imóvel. Ela arrancou sua capa e mostrou sua fantasia. Nesse instante, passos se aproximam, e, assustada, ela volta-se e fica sem reação: Enrolada em um lençol, aperece uma moça loira e com corpo curvilíneo, tão aturdida quanto Pedro.
Naquela noite, ouviram-se gritos e outros sons fortes. Na manhã seguinte, Pedro apareceu morto, esfaqueado, e estirada ao seu lado, também morta, uma linda mulher loira, vestida de cinta-liga vermelha e lingerie sensual.

domingo, 10 de junio de 2007

Espelho, espelho meu.

Minhas neuroses sempre me assustam, mas a neurose sobre a minha personalidade e o meu corpo, me assustam além do normal.
Desconfio de que eu seja a única pessoa no mundo com esses pensamentos, até porque, nunca ouvi nada parecido.
Sabe, eu queria muito, mas muito mesmo, me conhecer. E conhecer-se, no meu caso, não é no sentindo de ficar trancafiando-se, com pequenas depressões e surtos idiotas de adolescentes. Conhecer-se, é simplesmente saber como eu sou. Quem eu sou. Como as pessoas me vêem. Se sou uma pessoa legal, se sou chata, se sou bonitinha, se sou feia, se tenho personalidade, se sou wannabe, se sou uma pessoa que transmite confiança, ou não. Ok, as pessoas me dizem que sou assim e assado, desse jeito ou do outro. Mas eu tenho a mania de achar que tudo é falsidade, que se a pessoa diz que sou bonita, é porque ela quer [me comer] fazer moral comigo, que se diz que sou legal, é só porque quer me animar.
A Ana me disse que isso é auto-estima baixa. Eu acho que não, porque às vezes, sou até mais orgulhosa do que precisaria. Sei me dar valor, sei dizer “sim” e “não”.
Diversas vezes já quis trocar de corpo, só pra poder olhar pra mim. Ver o que se esconde por trás do espelho.
E por que tudo isso? Porque, todo dia, eu olho no espelho e vejo uma pessoa diferente. Às vezes, eu vejo uma pessoa alegre. Outras vezes, eu vejo uma pessoa cansada. E ainda, vejo uma pessoa que está chegando ao seu limite.
Odeio esse tipo de post, e eles nunca sobrevivem mais que dois dias. De qualquer forma, não preciso de elogios por comentários, ok? Sei lá do que preciso... ._.
Hoje estou com o terrível complexo de Greta Garbo: “Quero ficar sozinha”.
Beijos pra quem fica, porque eu vou ali ter uma crise de identidade e não sei se volto.